Como uma onda no mar...

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

SALSICHAS ENDLER


Essa história (estória? Ainda existe isso?) que vou contar é marcante, emocionante, hilariante e mudou a minha vida, isso é fato. Hoje eu estava lendo um blog de uma amiga (http://www.pudimdeideias.wordpress.com/ – vale a pena, passe por lá!) e me deparei com um post que diz assim: “das coisas que eu não fui”. Simplesmente maravilhoso. Não vai ter uma viva (ou morta) alma (alma morre?) que não vá se identificar em algum momento. Tomei a liberdade de recortar esse trecho, pra vocês entenderem do que estou falando: “(...) voltando mais no tempo (e agora ao ‘plim’ da conversa do meu amigo, depois de passar por tudo isso em uma fração de segundo), me lembrei que: 1. com um ano e meio eu fiz a minha primeira leitura. Minha mãe olhava o guia e tinha uma propaganda de um banco sibisa (acho que era banco, não lembro, ha-ha-ha) e eu olhei pra ela, apontei o dedo e li: sibisa, sibisa, sibisa, tudo sibisa (a propaganda era, pelo que ela me explicou, um sibisa grande, cheios de mini sibisas atrás). Minha mãe conta isso até hoje com muito orgulho. 2. as duas professoras da pré-escola foram até a minha mãe pedir que eu fosse matriculada na turma delas. Minha mãe ficou se achando, mas depois eu cheguei a conclusão de que elas queriam era uma Maria pro presépio (e eu fui a Maria. Sim, eu tinha cabelo comprido). 3. eu fui a primeira a aprender a ler e escrever da minha turma. Não só a minha mãe conta isso, como a mãe da minha amiga também, que ficou impressionadíssima, que enquanto eu lia os outdoors e tudo que aparecia (típico de alfabetizando), a filha dela (minha melhor amiga) neeem se coçava… E por aí vai, né? Não vou ficar contando os detalhes… O que importa é que eu sempre fui ‘a’ promessa! E nunca deslanchei. Acho que dizer que eu nasci no mesmo dia do Rubinho Barrichello me ajuda muito nesse momento difícil. Sempre senti uma super conexão. (...) Fico pensando que eu sou aquelas manchetes do tipo: POR ONDE FOI PARAR MULAMBINHO GAÚCHO (aquele que em 96 era promessa e em 2010 tá trabalhando com reciclagem de latinha de alumínio)”. Vários pontos a comentar (inclusive o fato de que sim, essa minha amiga deslanchou, só não se deu conta ainda!) e é exatamente esse despertar que ocorre com a leitura que me fez lembrar o episódio das SALSICHAS (é o que eu chamo – e já patenteei a descoberta – de raciocínio Vandinha – que já é outra história). Pra se ter idéia de quanto é marcante e determinante (hoje tô trabalhada nos “-ante”) já contei esse episódio para mais de 1000 pessoas (frouxo frouxo) e contando por baixo! Mas, de qualquer forma, aí vai. Certa feita (adoro certa feita)... huumm não cabe “certa feita” (tsctsc). Era uma vez (sim, essa é boa, faz eu me sentir uma princesa – ok pensamento mágico) uma guria que foi estudar em um Colégio experimental (o que passa na cabeça dos pais de deixar pedagogos “experimentarem” com seus filhos? Ora, só também sendo pedagogo! haha) na primeira série do primeiro grau (nesse Colégio o nome era Alfa 1). Pois então, lá fui eu e mais sete vítimas para a primeira turma de Alfa 1 de um Colégio alterna... (pobre criançada! rsrs). Certa feita (agora sim!), as professoras resolveram aplicar vááááááriooooosssss testes de Q.I. na gurizada. Como eram somente oito crianças dava para testar de tudo! (minha pedagoga mãe até me disse, esses dias, o nome do teste e o seu inventor – dados que eu prontamente esqueci – vejam o trauma hehe). A experiência era a seguinte: a pesquisadora (ilustres professoras) colocavam em cima de uma mesa várias salsichas. Uma salsicha era comprida e magrinha, outra era pequena e gordinha, outra era intermediária e assim vai (pegaram o espírito da coisa né?) e chamavam cada sujeito de pesquisa (leia-se criança de primeira série de primeiro grau hehe) individualmente (com o devido cuidado de que uma criança não iria escutar a resposta da outra) e perguntavam ao pobre infante: as salsichas são iguais ou diferentes? Dos oito alunos da época, sete responderam que eram diferentes, afinal uma comprida e magrinha, a outra é baixinha e gordinha, a outra... Tudo diferente! Hoje, certamente, que eu também daria essa resposta, pois faz sentido, não faz? E aí chegou a minha vez (confesso que não sei se foi nessa ordem, mas que assim fica com mais impacto isso fica e como sou eu que estou contando, digo que foi assim, afinal a história é minha mesmo!) e me sentaram na frente da mesinha com as salsichas variadas e repetiram a pergunta: as salsichas são iguais ou diferentes? Eu, sem piscar os olhos, sem dúvida alguma, prontamente respondi: as salsichas são todas iguais. As professoras foram a loucuuuraaaa! Me deixaram na sala e correram para a sala da minha mãe (que ficava no mesmo prédio – coisas de economia de espaço no serviço público hehe) e chegaram todas muito animadas. Contaram, assim meio ofegantes (muita emoção), que eu tinha sido submetida ao teste X e que havia fornecido a resposta mais esperada. Eu respondi como uma criança genial, disseram que eu entrava na categoria de superdotados! Emocionadas e agitadas as professoras diziam que eu devia mudar de escola, que devia ir para um colégio especial, que meu Q.I. era excepcional! Minha mãe, muito calma e sempre muito centrada, tranqüilizou as professoras e disse o seguinte: - conheço minha filha, ela é muito inteligente, mas não é superdotada. Vocês ao aplicarem o teste e perguntarem sobre a diferença ou não entre as salsichas, perguntaram a razão da resposta? Perguntaram o por quê? Se não o fizeram, voltem e repitam o teste, mas no final, se a resposta se mantiver, perguntem o por quê. Dito e feito, as professoras desceram, repetiram o teste, eu decidida, mantive minha resposta e elas me perguntaram porque eu achava que elas eram iguais... E eu, do alto dos meus seis anos de sabedoria, respondi: porque todas são Endler! É meu dever explicar que Endler é uma famosa marca de salsichas e eu adorava ir ao super fazer compras com meus pais... Sei lá, obviamente, nem deve ter passado pelo meu brilhante cérebro que as salsichas tinha formas diferentes, mas tinham o mesmo volume, mas, poxa, vai dizer que não foi genial ter me dado conta da existência de marcas nos produtos em uma época de marketing não agressivo? Pois bem, depois que decretaram que eu não era um gênio (fato que até hoje eu, veementemente, discordo! hehe) vieram as seqüelas... E a mais forte delas (não não é nenhuma conectada a complexo de inferioridade!) é a sequela que não admite que ninguém, mas ninguém mesmo, me dê uma resposta, me diga alguma coisa, sem me explicar o porque, tintin por tintin! Mas lá se foi minha carreira no ITA ou na NASA...

PRODUÇÃO EM SÉRIE

Ontem estava relendo um livro que ganhei no Natal e já devorei várias vezes (DE WAAL, Frans. A era da empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010). Toda a vez que o abro, descubro um novo ângulo, um novo tópico, uma nova discussão (tudo na minha rica cabecinha, é claro!). Pois então... Ontem, deitada na beira da praia do Leblon, água quentinha (para os padrões gaudérios) e transparente (fazendo quase esquecer os 40ºC à sombra rsrs) abri meu livrinho mais uma vez e me deparei com a seguinte frase nos agradecimentos (eu, r e a l m e n t e, adoro ler agradecimentos – a gente aprende cada coisa acerca das pessoas com isso! Uma maravilha): Durante aproximadamente uma década, acumulei informações sobre o papel da empatia e da confiança na sociedade – tanto humana como animal – para A era da empatia. Talvez para um leitor desavisado essa informação passe despercebida e sem significado maior. Todavia, me proponho a provocar a partir de alguns pressupostos. O escritor é um acadêmico, pesquisador reconhecidíssimo em seu campo de atuação. Zilhões de pesquisas desenvolvidas. Diretor de centro de pesquisa super, hiper, mega (fixe!) renomado. Disputado por várias instituições. E, nos agradecimentos, o dito se dedica a agradecer as pessoas que o ajudaram nesses DEZ (10) ANOS de pesquisa, pois lhe possibilitaram escrever a obra em questão. Aí botei meus botões a funcionar... Dez anos de pesquisa para publicar 1 livro! Certamente, já houve artigos desenvolvidos, já houve palestras... Mas não muda nada o fato de que levou dez anos para construir as, aproximadamente, 350 páginas do seu livro. Pensei em vários outros acadêmicos de renome. Qual foi mesmo o último lançamento do John Rawls? O Jürgen Habermas publica um livro por ano? E o J.J.? O Professor Gomes Canotilho? Quantos livros publicou no ano passado? Quantos artigos em quantas revistas Qualis A? E o Alexy? Ta, tudo bem, agora já estou exagerando... É que essa indústria ta chegando à beira do ridículo. As agencias de fomento à pesquisa no Brasil, as mesmas que depois avaliam os cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras, exigem quantidade. Querem que os questionários acerca dos cursos e das instituições preencham quantos... Quantos doutores? Quantos alunos? Quantas disciplinas? Quantos artigos? Pouco importa se o artigo publicado tem alguma coisa a ver com o que é pesquisado pelo programa examinado (tudo bem, tudo bem, as vezes importa! hehe). Pouco importa se a formação do pesquisador tem a l g u m a coisa a ver com o que ele vai ter que ensinar no programa. Números. O que importa são os números. É a transformação das ciências sociais aplicadas (no meu caso) para uma nova ciência econômica. Dia desses me dei ao trabalho (dizem que a curiosidade matou o gato... bom, mata as gatas também hehehe) de realizar um levantamento (com uso de excel e tudo mais) acerca da produção de alguns cursos de mestrado e doutorado em Direito no Brasil. A surpresa (que não foi surpresa, pois a minha hipótese foi confirmada e voi là... tese!) é de que poucos são os que publicam pesquisas com aderência e inovadoras todos os anos. Poucos são os que publicam na área do programa a que pertencem. Poucos são os que mantêm uma linha de pesquisa coerente. Muitos são os que fazem parte de um prêt-à-porter de ciência. Mercantilização de artigos. E sabem o que é pior (ou melhor, acho que melhor) achei que estava sendo super criativa nessa crítica, inovadora mesmo. e, de repente, não mais do que de repente encontro isso: a contabilização numérica de artigos publicados em revistas científicas legitima acadêmicos em seus campos de atuação. Mas em um cenário em que recursos de internet estão cada vez mais avançados, os papers podem ter se tornado uma mercadoria acadêmica que estaria seguindo a tendência do "darwinismo bibliográfico", cujo lema é publicar ou perecer. Essas foram as conclusões do artigo Entre fetichismo e sobrevivência: O artigo científico é uma mercadoria acadêmica?, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os autores são Luis David Castiel, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) da Fiocruz, e Javier Sanz-Valero, da Universidade de Alicante, na Espanha. Tudo bem, se a minha idéia não foi original lá se foi a minha tese, mas pelo menos não estou sozinha! E reflitam comigo: se Frans De Waal fosse brasileiro já tinha levado um cartão vermelho. Imagina... dez anos para produzir um único livro...